Toy era o nome do meu primeiro cão. Fui buscá-lo ainda bébé, num cesto de verga amarrado no suporte da bicicleta, aos Gordos a casa do senhor Alcides Liberado. O preço foi, por troca directa, uma galinha.
A partir daí o Toy passou a ser o meu companheiro inseparável. Lembro-me que ele em bébé era muito teimoso: caminhava sempre a direito batendo por vezes com o focinho nos obstáculos mas, não recebia a pancada de borla. Voltava para trás e ia morder na peça que "se tinha atravessado" no seu caminho para se vingar.
O Toy foi crescendo e eu tenho tantas histórias felizes dele, que para contá-las todas, este blogue seria demasiado pequeno.
Em casa de meus pais sempre houve muitos animais e uns tinham mais regalias que outros também devido à sua condição "intelectual". De inverno o burro e o cão, que eram muito amigos e os mais inteligentes tinham lugar privilegiado ao sol do pátio.
Num solarengo dia de Dezembro, em plenas férias de Natal, fui ajudar o meu pai na poda das vinhas. Normalmente o Toy ía connosco, mas naquele dia, como o meu pai achava que eu não fazia outra coisa senão brincar com o cão e por ser necessário acabar a poda naquele dia, ficou o Toy preso à corrente separado uns bons trinta metros do burro.
Acabámos a poda cedo e regressámos a casa antes do anoitecer. Ao chegarmos ao rigueiro, a uns setenta metros de casa, ouvimos o barulho de um burro a zurrar e de um cão a ladrar, mas, num tom que não era habitual! Notava-se que havia ali festa. O ladrar do cão era aquele som que os cães fazem quando estão felizes e o zurrar do burro também deixava adivinhar uma grande alegria.
Corri a toda a velocidade para ver o que se passava e, quando abri o portão da rua deparei-me com um espectáculo que mais parecia um número de circo. O Toy e o burro, soltos, a correrem de portão a portão e quando se cruzavam, porque o cão corria mais que o burro, faziam simulações e "fintas" um ao outro e era nessa altura que soltavam os "latidos" e os "zurros".
Foi um espectáculo hilariante a que o meu pai e eu assistimos durante um quarto de hora, a espreitar por uma greta do portão de madeira para não estragar a festa.
O Toy tinha conseguido soltar-se da coleira que o prendia à corrente e, depois foi soltar o burro, roendo-lhe a corda, desafiando-o para a brincadeira.